Arte por inteligência Artificial. Esse é o assunto que está fazendo o maior bafáfá entre Artistas. Uma maioria contra, uma minoria defendendo e uma parte ainda menor – na qual me incluo – simplesmente não se importando. E a maioria dos Artistas acusam que a Arte está ameaçada pela Inteligência Artificial, mas pessoalmente discordo.
Neste artigo irei divagar sobre Fotografia, Arte Digital, um telefone lançado em 1999 e um resumo bem grosseiro de como IAs funcionam para falar do meu ponto de que as Inteligências Artificiais não irão te ameaçar – se você for um artista realmente muito bom, resiliente e que ama o que faz, claro.
Para mim, esse assunto tem gerado uma histeria absolutamente desnecessária, o que rima com outros dois acontecimentos que dividiram – e dividem até hoje – opiniões: A Fotografia e a Arte Digital.
E o que me deu a ideia para essa postagem foi um artigo sobre Artes por Inteligência Artificial no Contraditorium.
No apertar de um botão, uma representação fiel da Natureza
A Fotografia surgiu com reações bem acaloradas. Veja bem, surgia no Século XIX uma máquina que no apertar de um botão – e um pouco de espera – criava uma representação fiel do que estava sendo visto. E isso, abalou o mundo.
Pintores de Retratos de Cartões de Visitas e Artistas que faziam Ilustrações Científicas foram afetados – afinal por que levar um artista para registrar animais e paisagens se você tem uma máquina que faz isso por um custo muito menor? -, teóricos e artistas reclamaram (por exemplo Charles Baudelaire acusando que a Fotografia era a inimiga mais mortal da arte) e outros se perguntando: “Será que a Fotografia é arte?”.
E depois tiveram aqueles que continuaram odiando a fotografia, alguns que começaram a usar a fotografia a seu favor – por exemplo, tirando uma foto da paisagem para dar de Referência para pintar no conforto de seu ateliê – e outros se reinventaram.
Claro, a Fotografia varreu do mapa a arte medíocre, a arte simples. Em outros lugares, a Fotografia tomou o lugar da Pintura, porém a Pintura sobreviveu.
E os custos de se ter um Retrato diminuíram drasticamente, e a cada revolução na Fotografia os custos foram reduzindo cada vez mais. até chegarmos nos dias em que os Celulares desalojaram os Fotógrafos e qualquer um pode tirar uma foto numa qualidade decente com um celular.
Arte ou não, a Fotografia andou junto com a Arte
E ainda teve Fotógrafos que acabaram criando um outro tipo de arte, numa linha bem tênue do que é um trabalho de um artista com o que é o trabalho de uma máquina, que era o Pictorialismo, – que poderia se dizer que era tipo o Photoshop, só que no Século XIX.
O Pictorialismo
O Pictorialismo buscava fazer a Fotografia ser mais artística e elevá-la ao status de Arte. Mas como isso era feito?
Para alcançar seus objetivos e conseguir efeitos parecidos com a pintura, os fotógrafos pictorialistas passam a desenvolver técnicas baseadas, sobretudo, em recursos químicos. Além disso, interferiam nos negativos e nas cópias fotográficas, abusando dos retoques para suprimir ou acrescentar elementos ou intensificar claros e escuros (utilizando borracha, pincel ou espátula), fazendo fotocomposições através de recortes, colagens e montagens de negativos. Conseguiam também uma variação de tons e efeitos através de técnicas como a goma bicromatada e o bromóleo.
Foto Clube do Espírito Santo : a arte fotográfica numa trajetória específica (Página 71) – Por Cláudia Milke Vasconcelos, na UFBA. Disponível em 1library.
Claro que isso causou controvérsias. Tanto de pessoas que acusavam os pictorialistas de estrem criando padrões irreais de beleza – onde será que eu já vi isso? – e de que não estavam representando a realidade.
Yee Chong: Fotografia com a Arte Digital
E cá estamos, décadas e mais décadas depois, com a Fotografia e a Arte andando lado a lado, e por vezes se complementando como nas artes de Yee Chong, também conhecido como Silverfox5213, que mistura o mundo real com a arte digital e isso fica muito bom!
As artes do Yee Chong é um ótimo exemplo de como a Fotografia pode ser usada para fazer peças de artes bem únicas e divertidas. E sem falar da fofura que são essas artes.
Arte Digital: Outra vez que a História rimou
E já que estou falando do Yee Chong, vale lembrar que o surgimento da Arte Digital também causou – e ainda causa – um salseiro de proporções pantagruélicas.
Como Dan Luvisi relata no artigo “DIGITAL ART IS NOT “REAL ART” que foi postado no Muddy Colors, os próprios professores dele diziam que o Photoshop era para trapaceiros e pessoas que não sabiam desenhar, e claro o temor de que uma nova forma de arte estava assumindo o controle e fazendo que a arte pudesse ser produzida mais rapidamente.
Sim, uma histeria bem parecida com a Fotografia e com a que está ocorrendo com a Inteligência Artificial. E até hoje há uma certa hostilidade com a Arte Digital, pudera, há ferramentas no Digital que facilitam muito o trabalho, como mostra alguns vídeos do Nick Jacoy.
Embora que a Arte Digital pareça ser mais fácil do que a Tradicional, ela requer um conjunto de habilidades diferentes de quem trabalha com a Arte Tradicional, inclusive dominar o programa que o Artista vai usar – e isso não é fácil.
Quando digo que é dominar o programa, é realmente dominar o programa, saber o que cada ferramenta faz, como esse cara que simplesmente fez um Papai Noel extremamente realista no simplicíssimo Microsoft Paint:
E assim como a Fotografia não substituiu a Pintura, a Arte Digital não substituiu a Arte Tradicional. Apenas trouxe novos artistas para uma nova forma de se fazer arte.
Tá, mas o que isso tem a ver com Arte e Inteligência Artificial?
Para mim, essa história das reações do Surgimento da Fotografia e da hostilidade em relação a Arte Digital tem tudo a ver com a Arte por Inteligência Artificial e é um excelente exemplo de como a História rima seus versos.
“Recentemente” surgiram algoritmos que fazem imagens com uma qualidade bem grande, mais barata e mais rapidamente do que a maior parte dos artistas. Essencialmente é a mesma coisa: Uma máquina fazendo algo que um ser humano já fazia, só que de forma avassaladoramente mais rápida e barata – sendo que algumas vezes o resultado é até melhor.
Por exemplo, eu pedi para o Criador de Imagens do Bing criar essa imagem. que foi feita com um nível de qualidade bem decente em poucos segundos:
E ao olhar para o período em que a Fotografia surgiu dá pra perceber que a histeria fora desnecessária. Os Artistas se reinventaram, usaram a Fotografia e criaram novos tipos de Arte.
Pessoalmente eu vejo o mesmo acontecendo com a Arte feita por Inteligência Artificial e não há necessidade alguma desse salseiro todo. E já tem artista que usa – seja para ajudar nas partes chatas ou para ter ideias para algum desenho -, enquanto outros reclamam.
Dois Argumentos contra a IA ou Como IA gera imagens?
Tem dois argumentos que vejo sendo usados pelas pessoas que estão reclamando que são: “IA está plagiando artistas” e “IA faz colagens”.
Porém tem uma pequena coisa que é esquecida nesses argumentos: Assim como nós humanos usamos imagens – e até artes de outros artistas – para estudar e aprender, o mesmo acontece com as IAs, com a diferença que a IA apenas aprende os padrões matemáticos. Isso mesmo: Imagens geradas por IA é fruto da mais pura Matemática.
E não, as imagens das IAs não são “colagens”, mas sim imagens feitas do mais absoluto caos numa tela cheia de ruídos, o que de certa forma é fascinante.
E assim IAs geram imagens que não existiam até o momento em que alguém escreveu o prompt, como essa imagem ali em baixo.
Foi escrever o que eu queria que fosse gerado e o Stable Diffusion Online gerou pra mim uma imagem que não existia até o momento em que ela foi gerada. E tudo isso, com padrões matemáticos.
IA é para a Arte Digital o que a Câmera nos Celulares foi para o Fotografia Digital
O ano era 1999 e era lançado um aparelho que mudaria o mundo: o Kyocera VP-210. Essa belezinha aí em baixo foi um dos primeiros celulares com uma câmera no mundo.
E isso mudou o mundo, permitindo que qualquer pessoa com um celular pudesse dar uma de Fotógrafo e pudesse registrar momentos sem ter que contratar um Fotógrafo ou carregar uma câmera por aí.
Hoje em dia, qualquer celular tem uma câmera razoável e que dá pra tirar fotos numa qualidade bem decente – apesar das Câmeras Digitais Dedicadas serem melhores.
Para mim, a Inteligência Artificial será para a Arte Digital o que os Celulares foram para as Câmeras Digitais: Apenas uma nova forma das pessoas darem uma de Artista. Uma forma de tornar a Arte ainda mais acessível.
Até porque tem pessoas que não querem aprender a desenhar e também não querem pagar um artista para fazer uma arte que ele quer apenas usar como Wallpaper.
A Inteligência Artificial não vai matar os Artistas
Para mim, a Inteligência Artificial não irá matar a Arte por um motivo bem simples: Assim como a Arte Digital requer um conjunto de habilidades diferentes da Tradicional, a Inteligência Artificial requer habilidades diferentes da Arte Digital.
Principalmente a Habilidade de descrever em detalhes o que você quer – ou procura – para a Inteligência Artificial, além de ter que dominar a ferramenta, seja o Midjourney ou o Stable Diffusion – que tem vários ajustes que podem ser feitos.
Não adianta nada usar uma Inteligência Artificial se você não sabe explicar o que você realmente quer. A IA não vai entender e provavelmente não vai entregar o resultado desejado.
E agora?
Porém, não adianta ficarmos apenas reclamando, é como alguns dizem: Se estiver no inferno, abrace o capeta. A Inteligência Artificial chegou – e pelo o que tudo indica, veio é pra ficar – e o jeito é se reinventar, inovar, se adaptar.
Assim como aconteceu na Fotografia, aqueles que são resilientes, amam a arte e são talentosos irão continuar e os clientes que estiverem dispostos a pagar por uma Arte daquele artista que é realmente bom, irá pagar.
E nesse caso, a saída é realmente apostar todas as fichas na resiliência, melhorar como artista, passar a amar o que faz e assim como os artistas do século XIX fizeram, se reinventar. Essa é a única maneira de sobreviver. Não há outro caminho.
E os artistas medíocres, os que fazem as coisas iguais aos outros e os que buscam apenas fama e status? Esses irão sucumbir diante desse maremoto que é o fato de que os computadores fazendo artes mais bonitas do que a maior parte dos artistas.
Concluindo…
A IA não vai matar a Arte. E nem os artistas – a não ser que você seja um artista que faça artes absolutamente genéricas por 5 doletas, aí nesse caso você está realmente ferrado. Para mim, a IA vai separar aqueles que realmente gostam da arte e os que apenas gostam da arte puramente por status.
É sobre isso que se trata e por isso que não me importo com a Inteligência Artificial: eu gosto da arte não é por dinheiro ou fama , mas sim porque isso me faz me sentir bem. E eu gosto tanto que quero ajudar os outros a fazerem arte compartilhando o meu processo. No fundo, é sobre isso, e está tudo bem.
E os artistas que desenham para pagar as suas contas? Bom, tal como tem pessoas que ainda pagam um Fotógrafo para eternizar alguns momentos num álbum de fotos, mesmo que a enorme maioria tenha um celular a mão e que tem uma câmera razoável, terá os amantes da arte que ainda vão encomendar uma arte de um artista competente.
E assim como os Celulares fizeram alguns brincarem de ser fotógrafo, as IAs vão fazer algumas pessoas brincarem de serem artistas digitais.
TL;DR
- Assim como a Fotografia, a Inteligência Artificial irá varrer a arte medíocre do mapa.
- A Histeria em torno desse assunto é desnecessária, afinal a IA não irá matar Arte.
- Toda forma nova de se fazer Arte trouxeram mais pessoas para a Arte. E formas diferentes de se fazer Arte.
- A IA não exatamente faz colagens, mas faz as artes com os padrões matemáticos que ela aprendeu sendo treinada por milhões de imagens. E toda imagem gerada pela IA não existia antes.
- A IA vai separar o joio do trigo, os que amam a arte e os que apenas querem o status de um artista. Se você realmente gosta de fazer arte, relaxe.
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