Por que a Arte precisa de pressa na Web?

Uma reflexão de uma pessoa que gosta de arte e vê outros artistas que estão nessa dança cruel da busca por likes e seguidores dessa internet intensa.

Um Jabuti para a Slow Web e um Coelho para a Fast Web. A escolha entre algo mais lento, constante e duradouro ou mais rápido, imprevisível e efêmero.Um Jabuti para a Slow Web e um Coelho para a Fast Web. A escolha entre algo mais lento, constante e duradouro ou mais rápido, imprevisível e efêmero.

Slow Web. Eu nunca tinha ouvido falar nesse termo até ler sobre isso num Artigo em um Blog que eu gosto muito: O Manual do Usuário. E esse Artigo do MdU é uma tradução do manifesto Slow Web, escrito por Jack Cheng lá no, hoje, distante ano de 2012.

Assim, decidi pesquisar um pouco para saber mais sobre esse assunto. Primeiramente, isso explodiu a minha cabeça, em seguida me fez pensar e depois amarrou uma série de pensamentos que apenas vagavam em minha mente e que começaram a fazer sentido.

E por fim, decidi escrever sobre isso, mas sendo uma pequena reflexão de uma pessoa que gosta de arte vendo outros artistas que entraram nessa dança cruel da busca vazia por Likes, Seguidores e Compartilhamento a todo custo.

A Fast Web e a Slow Web

Um Jabuti para a Slow Web e um Coelho para a Fast Web. A escolha entre algo mais lento, constante e duradouro ou mais rápido, imprevisível e efêmero.Um Jabuti para a Slow Web e um Coelho para a Fast Web. A escolha entre algo mais lento, constante e duradouro ou mais rápido, imprevisível e efêmero.
Um Jabuti para a Slow Web e um Coelho para a Fast Web. A escolha entre algo mais lento, constante e duradouro ou mais rápido, imprevisível e efêmero.

Mas primeiro, precisamos definir o que é a Fast Web, que seria uma antítese da Slow Web. Jack Cheng define a Fast Web assim:

O que é a Fast Web? É a web fora de controle. A web “ah meu deus, tem tanta coisa que é impossível acompanhar tudo”. É a web “gaste seu tempo verificando umas vinte vezes ao dia”. É a web “entra por um ouvido e sai pelo outro”. A web projetada para apelar às mais básicas das nossas paletas intelectuais, o sal, o açúcar e a gordura dos conteúdos online. É a web de larga escala, rígida e rápida. É a web “crie um destino para bilhões de pessoas”. A web “você tem duzentas e vinte e seis novas atualizações”. Acompanhe ou suma daqui. Clique em mim. Curta-me. Tweet. Compartilhe-me. A Fast Web exige que você faça as coisas e que as faça agora. A Fast Web é um país das maravilhas cruel de coisas brilhantes e bonitas.

A Slow Web – Escrito por Jack Cheng e traduzido por Rodrigo Ghedin

É basicamente essa Internet intensa e acelerada que vivemos, em que somos bombardeados a todo instante por uma avalanche de conteúdos. E essas duas formas de se ver a Internet são muito diferentes entre si.

Duas formas de se ver a Internet

Enquanto que na Fast Web tudo acontece em tempo real – tem exemplo maior do que o Twitter/X? – na Slow Web as coisas acontecem no tempo certo, quando temos mais tempo pra saborear aquele conteúdo ou num momento mais oportuno.

Enquanto que na Fast Web, a aleatoriedade impera – Tipo o SBT, que volta e meia muda a sua programação do nada – a Slow Web se foca no Ritmo, em algo que vai ocorrer de forma mais previsível. E em que o Ritmo também se torna uma forma de Moderação – coisa que não existe na Fast Web.

E também tem outra diferença: Enquanto que a Fast Web é mais baseada na Informação, a Slow Web é mais baseada no Conhecimento. A Informação passa por ti como se fossem neutrinos, já o Conhecimento se dissolve em ti, como um comprimido de Vitamina C se dissolve na água.

A grosso modo, são essas as diferenças entre essas dias maneira de se ver a Internet e os pilares da Slow Web: Tempo Certo, Ritmo, Moderação e Conhecimento.

Um Conforto numa Web Acelerada

Pra mim a a Slow Web é um conforto numa Web desesperada por Atenção. É apreciar e saborear um bom conteúdo ao invés de se entupir de conteúdos vazios e superficiais. É como ler um longo artigo ao invés de rolar por milhares de tuítes vazios.

Ou mesmo, escolher uma boa comida que alimenta e sacia em detrimento da comida rápida e vazia de sabor das grandes redes de Fast Food.

Mas para um mundo acelerado, é difícil desacelerar. E entediante. Principalmente por essa Internet intensa e frenética ser mais viciante. É difícil resistir ao imediatismo, ao “faça isso agora!” e começar a fazer as coisas no tempo certo, com moderação, no ritmo certo e em seu devido tempo.

E quanto a Arte?

E pra mim, a parte foi pega de assalto por essa intensidade. Nesse mundo totalmente acelerado, eu vejo artistas desesperados por engajamento. Presos nesse mundo, sem descanso, em apenas querer mais e mais e que tudo suba sem descanso.

Likes, Seguidores, Compartilhamentos. Numa obsessão de que tudo cresça visivelmente. E totalmente desesperados se alguma métrica cai ou fica estagnada.

O que todo mundo quer e é incentivado é o crescimento exponencial e irreal. Na vida real, tudo tem altos e baixos.
Nada cresce visivelmente para sempre.

Sem tempo para contrair antes de expandir. Sem tempo para realmente crescer e aprender. Sem viver e saborear cada Estação. Indo contra a Natureza que é lenta e cíclica.

Assim como o ano, a Arte também tem estações. Estações onde estamos inspirados e estações onde estamos desesperançosos. Estações onde estamos desencantados e estações onde nos encantamos novamente com a nossa arte. Devemos aprender muito com a Natureza.
A arte, assim como a Natureza, é cíclica.

E vejo que esse conceito da Slow Web tem tudo a ver com a Arte. A Arte não precisa ser apressada. Pelo Contrário. Precisa de calma e apreciação. Precisa ser saboreada, tal como um bom prato de um restaurante caseiro. E de um olhar bem atento. Tanto na apreciação da arte alheia como da própria arte do Artista.

Uma Ilha de Tranquilidade no meio de um Mar Revoltoso

E como desacelerar? Acho que a resposta varia de pessoa pra pessoa, de artista pra artista. Por exemplo, pra mim os Blogs funcionaram como um “freio”. Fazer uma arte e ter que escrever sobre ela, sobre o processo e os meus comentários sobre o desenho em si leva muito mais tempo do que simplesmente postar o desenho no Facebook, Instagram ou Twitter/X.

Além disso me desacelerar um pouco, me fez prestar atenção para alguns detalhes de minha própria arte. Principalmente pela natureza mais “Faça em seu devido tempo” dos Blogs, creio que eles permitem que a arte seja realmente saboreada pelo Artista – e pelo leitor que está lendo o post.

Permite que percebamos detalhes que passariam batidos no ritmo frenético dessa Internet intensa.

Isso permite que desaceleremos o ritmo e que o fã tenha a oportunidade de apreciar a arte conosco. Sair do ritmo frenético da internet dominada pelas Mídias Sociais pode ser bom, e nos dar a possibilidade de nos reconectarmos a nós mesmos. Para mim, é disso que se trata.

Também permite que saiamos da lógica dos algoritmos, de conteúdos produzidos em escala industrial, efêmeros e vazios de conteúdo e sabor para irmos para o conteúdo mais lento, mais eternos, mais profundos e mais saborosos.

Conquistar olhos e corações

Todos os artistas querem atenção, e isso é natural. Mas temos que tomar cuidado para não buscarmos apenas por olhos, não buscar atenção desesperadamente. Também devemos conquistar corações.

Como conquistar corações se a maioria se entregou a busca vazia por atenção, fazendo com que produzam artes efêmeras e vazias? Fazendo artes para buscar nada mais do que números?

Números esses que não dizem muita coisa. As Curtidas no Instagram não dizem se uma pessoa pensou naquela arte a semana inteira. O número de visualizações no Twitter/X não dizem se uma pessoa gostou tanto da sua arte que ela salvou ela e está usando como o papel de parede do celular – ou do computador – ou enviou para alguém especial. O numero de seguidores não dizem se alguém gostou do que você faz e começou a se inspirar no seu trabalho. Números não dizem muita coisa.

Números não dizem muito. Não dizem se gostamos tanto de uma arte que enviamos ela para uma pessoa especial, ou se estamos usando aquela arte como um papel de parede, ou se alguém pensou na arte por uma semana ou se você inspirou alguém. Não devemos perseguir apenas números, pois eles não dizem nada.
O que conta? Olhos ou corações?

Que deixemos de buscar apenas números e façamos uma arte que seja lembrada, que inspire e que conquiste corações, não uma arte efêmera que conquiste tão somente olhos por ser apenas uma arte bonita, mas que não tem muita alma.

Para mim, esse tópico também se encaixa na Slow Web. Principalmente para Artistas.

O que podemos tirar de tudo isso?

Pessoalmente acho que a Slow Web é essencial para os dias de hoje. Principalmente quando estamos muito acelerados, soterrados por notificações e conteúdos totalmente vazios e sem tempo para refletir, é preciso desacelerar.

E acho ainda mais essencial para Artistas, já que nós que fazemos arte, de qualquer tipo que seja, precisamos prestar atenção nas coisas ao nosso redor, mas como prestar atenção se estamos acelerando à velocidade da luz?

Devemos fazer as coisas em nosso próprio tempo, não no tempo em que as Mídias Sociais nos impõe. Fazer as coisas em nosso próprio ritmo e claro, não se deixar viciar pelos números e estatísticas. E pra mim, é isso que podemos tirar de tudo isso.

Aliás, esse post acabou sendo menos sobre a Slow Web e mais um comentário sobre essa busca por coisas que não dizem muita coisa. Mas isso era algo que eu queria escrever há um tempo.

Agora é com você

Eu achei esse assunto bem interessante e bem útil nos dias de hoje, em que a Internet está cada vez mais veloz e por isso decidi trazer aqui para o Cantinho. E pra mim, combina bem com a arte.

Te convido a experimentar. Se puder, desacelere, faça as coisas em seu devido tempo. Pesquise sobre esse assunto. Tem artigos por aí tanto sobre a Slow Web como sobre o Slow Content, que é parecido, mas que vejo que é mais voltado para quem produz conteúdo na Internet. E adapte os conceitos para o que você faz.

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